segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Estranho cenário final

O meu coração está apertado.

Parece que duas mãos o agarraram e o apertam com força... com tanta força que, mais tarde ou mais cedo, explodirá.

O cenário de um coração a explodir não é bonito, não é agradável, não é harmonioso como devem ser todas as coisas que existem. O esguichar de sangue, a contracção do músculo, a cor vermelha criam contrastes com o equilíbrio do mundo.

Quando o meu coração explodir não sairá sangue, não ficará deformado, não será uma ténebre visão. Os sonhos, outrora carinhosamente guardados, ficarão vazios... o amor, tão precioso, esvair-se-á em nada... as memórias coloridas desfazer-se-ão em pingos de tinta que marcarão o chão onde me encontro sentada.

A tez ficará pálida, os olhos finalmente num tom azulado e as sapatilhas serão a única forma de cor.

domingo, 22 de agosto de 2010

Balancé

Eu sou uma espécie de boneca amarrada a duas cordas. Os meus braços estão esticados e, à volta dos meus pulsos, existem dois grandes nós.
E balanço... direita, esquerda, direita, esquerda. Um balançar incessante e ritmado que me abana as pernas mal cozidas.

Por vezes a melodia do meu balançar é bruscamente interrompida, o ritmo cessa e o caos instala-se. As notas, anteriormente harmoniosas, desafinam constantemente e o ruído aparece. Eu balanço mais repentinamente, mais rapidamente, mais atabalhoadamente....
O cabelo despenteia-se. As pernas adormecem e a boneca, outrora calada, solta um grito abafado.

Não sei o que acontece a seguir. Se o balançar retorna ao que era, se continua abrupto, se as cordas se desatam ou se a boneca se descose e cai ao chão.

Não é meu dever saber. Afinal sou só uma boneca... uma espécie de boneca...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Prazo

Apetece-me suspirar. E suspiro, mas a vontade não passa.

O que é que eu faço? O que é que eu faço da vida? Paro e não vou, fico quieta, não me meto ou arrisco, tento e continuo?

Não sei, não sei, NÃO SEI!! Pára de me importunar, pára de estar na minha cabeça, pára de me angustiar com essa interrogação permanente. Porque é que o faço a mim mesma? Porque é que me sinto mal quando o faço? Porque é que ainda não tenho resposta?

Preciso de ajuda... eu sei que sou dependente, que não o devia ser, mas não me vão ajudar se continuarem a ignorar que eu não sei.

É que eu não sei mesmo...

terça-feira, 20 de julho de 2010

Animalzinho

Darwin... aquele senhor que disse que eu era parente de um macaco é... um macaco ele mesmo!

Tudo o que ele disse é mentira! Aquela coisa da selecção natural... isso não existe! Podem ficar chocados, senhores investigadores da evolução humana da comunidade científica internacional. Fiquem, a mim não me chateia nada, mesmo nada! Aliás, enviem-me e-mails a pedir que desminta isto publicamente (como se aquilo que é dito por uma rapariga com sapatilhas roxas, ainda por cima velhas, importasse).

Segundo este senhor, os animaizinhos mais fracos são eliminados pela natureza para dar lugar aos animaizinhos mais fortes, que nasceram com umas garras mais afiadas e que por isso têm mais direito à vida. Se pensarmos bem é uma maneira misericordiosa da mãe natureza dizer "Sim, sou uma filha da mãe que mata os animaizinhos, mwahahahahahahah". Pois, mas é mentira, a mãe natureza é uma filha da mãe, concordo, que não faz essa selecção. Porque se fizesse eu já tinha desaparecido há muito tempo.

Eu sou um animalzinho fraco, sem garras, com pouco pelo e sem jeito nenhum para correr. Se a selecção natural existisse, eu já tinha morrido de hipotermia e de fome. No máximo tinha durado 6 meses (contando que a minha mãe me amamentasse até essa altura). Se essa forma misericordiosa de exclusão dos inadaptados existisse, eu não tinha de me continuar a sentir como me sinto, não tinha de experimentar o que já experimentei, não tinha de ver o que já vi. Provavelmente perderia muita coisa boa, é certo, mas também evitava muita coisa, mas muita coisa má. Mas a coisa boa compensa?

Não sei! Com os últimos acontecimentos tendo a pensar que não, que realmente não compensa. E, se ninguém me ensinar a caçar, se ninguém me der um colo quentinho para dormir, vou continuar a ser esse animalzinho frágil e assustado!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Portão verde

Há dois dias atrás fugi da normalidade, daquilo que a minha vida tem vindo a catalogar como normal, rotineiro, previsível. Obviamente que já voltei à minha rotina, ou não fosse eu eu mesma, mas esse dia foi mais do que inicialmente aparentava ser. Ia sair, tratar de assuntos e voltar a casa. Era o que eu pensava, mas não foi...

Já lá tinha passado tantas vezes... nunca me tinha apercebido. Nunca reparei naquele edifício, nunca o vi como familiar, nunca o encarei dessa forma. Para mim era um edifício normal, grande, antigo, como muitos no Porto. Tão vulgar que nem reparei no cartaz gigante ao seu lado com o seu nome. Mas ela reparou, parou e disse-me.

Mas isto é... fez-se um clique! Vivi algo que não sei muito bem explicar. Senti que a memória mais submersa no inconsciente tinha sido despertada, senti-a a percorrer todo um caminho até me lembrar...

Aquele portão verde, aquela entrada e aquela menina pequena... aquele eu.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ordem de despejo

Os dias andam estranhos... mesmo estranhos. É como se o tempo gozasse comigo, com o meu estado de espírito, com o meu humor, divertindo-se imensamente! E, por causa disso, perco-o... escapa-me das mãos e desespero.

Hoje mudei de poleiro. Sim, de poleiro, como as galinhas no galinheiro por trás de casa, elas também o fazem. Basicamente mudei de sofá e de andar. Pensei que tivesse um maior efeito, pensei verdadeiramente que resultasse e que não fracassasse. Enganei-me. Como é que pude ser tão parva? É claro que as coisas não resultam, ou não fossem elas coisas minhas. Sim, se as coisas fossem dos outros com certeza resultariam e originariam uma vitória; para mim, foi mais uma tentativa falhada mergulhada em angústia.

Mergulhada nesta minha amiga angústia... estranho chamá-la assim, de amiga. Mas já está comigo há tanto tempo que acho que se tornou amiga... pelo menos, companheira. Sim, é esta a palavra, companheira de viagem. Recapitulando agora da forma correcta, a angústia, a minha companheira angústia, esteve comigo hoje. Perguntei-lhe se não pensava em mudar-se, conhecer outros sítios, outras pessoas... de certo estaria farta da minha pessoa, sempre tão fraca e sentimental.... sempre tão previsível. Mas aparentemente ela gosta do meu peito, diz que é aconchegante. Não pensa mudar-se tão cedo.

Preciso de um cirurgião, daqueles com bisturis afiados. Se o meu peito é tão confortável assim, que o abram, que o rasguem, que façam dele o pior lugar para se estar! Não quero ser mais senhoria dessa coisa, dessa sensação, dessa aflição que me acompanha há tanto tempo. Quero-a fora daqui!

terça-feira, 8 de junho de 2010

A decisão

Acho que acabei por ceder. Sim, cedi! Cedi aos conselhos para a criação de um blog e cá está ele.
Não faço a menor ideia do que vou escrever aqui. Provavelmente ficará uns dias parado, à espera que dele me lembre e que cá venha escrever uma mensagem ou duas e, depois, cairá outra vez no esquecimento.

Não disse a ninguém. Não disse a ninguém que o ia criar. Acho que me decidi quando me lembrei do nome. Realmente, quem é que tem um blog com semelhante nome. Mas Velhas Sapatilhas Roxas soou-me bem, bastante bem aliás.
Talvez para alguns seja nojento (estamos verdadeiramente próximos dos pés, neste caso dos meus pés), talvez para outros seja original... afinal quem é que tem sapatilhas roxas nesta vida? Eu! E são velhas, muito gastas... Mas eu continuo com a minha cisma, com a minha mania... já colei a sola que estava descolada e a parecer mal. Quer dizer, colei a pouca sola que ainda têm. É que quase não a têm, são daquelas sapatilhas rasas que, por serem velhas, estão ainda mais rasas do que o que era suposto. Mas são minhas e, mesmo que compre outras, decerto não serão roxas nem tão rasas como estas.

O que quero dizer com isto? Não sei. Talvez explicar o porquê de criar o blog.
Porque falo sobre sapatilhas? Porque provavelmente irei falar sobre coisas ainda mais estranhas (isto pressupondo que não irei ignorar a existência deste blog).

Então que fique oficialmente criado o sítio das Velhas Sapatilhas Roxas, um sítio onde várias pegadas serão deixadas!